Um encontro epidíctico para repensar o discurso epidíctico: um panorama do Seminário do GERAR do dia 09/11/2019
Por Márcia Regina Curado Pereira Mariano
No dia 09 de novembro de 2019, na sala 271 do Prédio de Letras da FFLCH-USP, realizou-se mais um Seminário de Estudos do GERAR. Sob o título “O debate parlamentar e suas atualizações”, a proposta foi discutir os capítulos I e IV da obra As funções da Retórica Parlamentar na Revolução Francesa. Estudos preliminares para uma pragmática histórica do texto (2003), do teórico literário e pensador Hans Ulrich Gumbrecht, relacionando-os às novas perspectivas dos estudos retóricos, principalmente àqueles que abordam o discurso epidíctico. Abrindo os trabalhos, a Profª Drª Lineide Mosca, coordenadora do grupo e moderadora do encontro, relembrou os 25 anos do GERAR, comemorados em maio de 2019, e alguns dos principais convidados que enriqueceram as reflexões durante esses anos, como Wolfgang Roth, Eric Landowski, Christian Plantin, Dominique Maingueneau, Denis Bertrand e outros estudiosos do discurso. Em seguida, apresentou o autor dos textos programados para discussão, informando sua origem – Alemanha; filiação – Standford University – e formação – Teoria Literária, além de seus temas de pesquisa. Tais informações esclareceram as referências e relações trazidas por Gumbrecht, das quais destacamos a valorização da recepção do texto pelo leitor na construção dos sentidos e na determinação das funções dos textos epidícticos. Após esse início agregador e elucidativo, a moderadora passou a palavra para o expositor convidado Frédéric Pili, doutorando da Faculdade de Direito, Departamento de Direito Internacional, que traçou um panorama histórico da França na época da Revolução Francesa a partir do ponto de vista de diferentes historiadores. Assim, fomos transportados para outra terra e para outros tempos, de ascensão das ideias iluministas, de Robespierre, dos jacobinos, da revolta dos sans culottes e do Terror. A morte de Marat, tema dos discursos epidíticos de parlamentares analisados por Gumbrecht, foi assim contextualizada sócio-historicamente, o que, sem dúvida, colaborou bastante para a compreensão dos textos do teórico alemão e para as discussões que sucederam às comunicações. Outra terra e outro tempo, não tão distantes, vieram também com a segunda exposição do dia, feita pela Profª Drª Márcia Mariano, do Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe, campus Itabaiana. A professora, membro do GERAR desde 2003, trouxe para o seminário a comunicação “Não há festas na política: reflexões sobre o discurso epidíctico em uma cerimônia de posse”, em que, partindo do capítulo IV de Gumbrecht (2003), analisou as funções do gênero epidíctico no discurso de posse do ex-governador sergipano Marcelo Déda, falecido em 2013, discurso esse proferido em 01/01/2011, no início de seu segundo mandato no governo do estado. Retomando também Aristóteles, Meyer (2007), Fiorin (2008) e Mosca (2007) a pesquisadora mostrou que as ações de linguagem despertadas pelo discurso epidíctico podem ir muito além do elogio ou da repreensão. Por meio do uso estratégico dos pronomes pessoais e de alguns tipos de argumento, como a metáfora e a analogia, Marcelo Déda, no discurso analisado, buscou reforçar seu ethos prévio de orador eloquente e político engajado com os mais humildes; firmar compromisso com as promessas de campanha e com seus ideais de político da esquerda; reconhecer a falta de unanimidade política e, sobretudo, propor uma negociação das distâncias para o progresso do bem em comum, o estado de Sergipe, podendo despertar ações e comportamentos variados em seu auditório. Após esta segunda exposição, abriu-se espaço para as discussões. O público presente, de diferentes cursos, instituições e níveis de formação, participou de forma satisfatória, com colocações que enriqueceram as reflexões daquela manhã de sábado. Para finalizar o encontro, a socialização continuou ao redor de uma deliciosa mesa de comes e bebes, sempre com o cuidado que caracteriza o GERAR. Além de um momento acadêmico enriquecedor, como bem disse a Profª Lineide, foi um “encontro também epidíctico, porque um momento de confraternização e estreitamento dos laços”.
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