V JORNADAS MEXICANAS DE RETÓRICA - Retórica, Política y Filosofía

 

Maria Helena, Lineide, Gerardo Ramirez (presidente da OIR) e Raul Arrieta Cartagena)

 

Por Maria Helena Cruz Pistori (PUC - SP)

A Cidade do México é sempre surpreendente em seu gigantismo populoso, movimento intenso e vivo colorido. Entre os dias 11 e 13 de maio, ela foi o pano de fundo no qual ocorreram estas V Jornadas Mexicanas de Retórica, cuja temática girou em torno das intersecções da antiga disciplina com a política e a filosofia. E, simultaneamente, no Brasil, era o momento em que as questões políticas atraíam toda a atenção da sociedade: a semana em que o Senado votou a possibilidade de impeachment da Presidente Dilma Roussef.

 

Organizado pela Asociación Mexicana de Retórica, presidida por Erika Lindig Cisneros, o evento aconteceu na Universidade Autônoma do México (UNAM), na Faculdade de Filosofía y Letras. Dessa forma, tivemos a oportunidade de conviver um pouquinho com os estudantes e professores de lá, conhecer salas de aula e de conferências, bibliotecas, livrarias, cantinas e transportes, e tudo o mais que os fazem tão distintos mas também tão semelhantes aos daqui.

 

 

O encontro teve proporções modestas, em termos do número de participantes, mas foi bem rico se pensarmos na amplitude e profundidade das pesquisas apresentadas, e também nas possibilidades de conhecimento das experiências acadêmicas que estão sendo realizadas sobretudo na América Latina, com representantes do México, Colômbia, Peru, Cuba, Argentina, Uruguai, Brasil, entre outros. E, logo de início, devemos dizer que a antiga retórica clássica - e Aristóteles, naturalmente, dominaram a cena. Sem ofuscar, contudo, todos os demais trabalhos que, partindo da herança grega, fizeram dela uma releitura, ampliando-a ou dando-lhe novas interpretações. Assim, temas como tradição retórica grega e latina, política e discurso político, filosofia, cidadania, movimentos sociais, literatura, estratégias retóricas, discurso religioso, na América Latina e na Espanha, constituíram-se como temas das ponencias.

 

Universidade Autônoma do México 

Vamos destacar aqui apenas dois trabalhos. O primeiro, apresentado por Gerardo Ramírez Vidal, Presidente da Organización Iberoamericana de Retórica, pesquisador do Centro de Estudos Clássicos do Instituto de Investigaciones Filológicas da UNAM - bem conhecido de nós, brasileiros, e do GERAR. Sua conferência – “Ética, retórica y política en Retórica a Alejandro”, abriu os trabalhos da Jornada. Vidal tratou do último capítulo daquela obra, um tratado tradicionalmente atribuído a Aristóteles, cuja real autoria não se conhece, e de uma suposta autenticidade de alguns capítulos finais, que provavelmente se agregaram a ela posteriormente. Destacou especialmente o tratamento concedido à noção de ethos, apontando diferenças tanto em relação ao que a Análise de Discurso atual (Dominique Maingueneau, principalmente) tem abordado, como em relação à própria Arte retórica de Aristóteles que conhecemos. E ressaltou sua importância para a discussão atual dos problemas éticos na retórica.

Professoras Lineide Mosca e Maria Helena Pistori

A presença dos brasileiros no encontro foi pequena, embora tenha havido várias inscrições, conforme o programa distribuído atesta. Além de José Luís Martinez Amaro (docente da Universidade de Brasília, uruguaio), Denise Aparecida P. Ribeiro Leppos (UFSCar), apenas Lineide Salvador Mosca e eu representávamos o país. E só podemos agradecer pela acolhida privilegiada que tivemos, apresentando nosso trabalho numa mesa plenária cujo coordenador foi Gerardo Ramirez Vidal. Aliás, foi marcante o fato de que nossa apresentação, que tratava do discurso político, abordando o contexto atual brasileiro – “Dilema e impasse no discurso político pela perspectiva da retórica: as figuras de dissociação” –, tenha ocorrido exatamente no dia em que a votação no Senado se encerrou e era notícia em todos os jornais mexicanos (e internacionais). Partimos do princípio de que a controvérsia e a divergência estão na base da retórica, e tratamos das figuras que retratam as dissociações entre situações e fatos, valores e convicções, sujeitas a hierarquias e preferências, segundo Chaïm Perelman. Mostramos como costumam desembocar no dilema, por meio de exemplos da mídia impressa, das manifestações populares e redes sociais, e também do discurso jurídico e político. A boa recepção do auditório comprovou, inclusive, a oportunidade do tema.

Finalizando, quero enfatizar a importância dessa participação para o GERAR, na medida em que permite nos familiarizarmos com o que tem sido realizado nas pesquisas internacionais em Retórica e Argumentação, ao mesmo tempo em que dá visibilidade e reconhecimento a nossos trabalhos na área.

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